quinta-feira, 4 de junho de 2009

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Ontem comecei a escrever um texto que em teoria tratava de amor e medo. A primeira é uma palavra que raramente é utilizada e que em português soa bastante mal. Love soa muito melhor que Amor, talvez por isso é que em Portugal se diga tão pouco essa palavra. Talvez por respeitos humanos olhemos de esguelha cada vez que queremos dizer a alguém o que sentimos. Por respeitos humanos talvez não digamos “amo-te”, talvez por isso digamos apenas “adoro-te” talvez por isso… talvez sim, talvez não, talvez a única coisa que nos leve a não dizer é o facto de não ouvirmos muito isso das pessoas que mais gostamos, porque na nossa cultura as pessoas estão cada vez mais preocupadas com mal que lhes pode acontecer do que com o bem que podem tirar de cada dia que passa e que acabam por não aproveitar. Mas no final do dia não se lembram que esse dia que passou significa apenas que têm menos um dia para dizer as pessoas que amam, que as amam, e que o dia não é o mesmo se não lhe puderem dizer isso, e não puderem sussurrar-lhe aos ouvidos todas aquelas coisas que só elas devem ouvir, mas que, por alguma razão acabamos sempre por não dizer. Talvez por isso tenha pensado em escrever sobre amor e medo, porque, no final do dia acabam relacionados, apenas porque a existência de um inibe a magnitude do outro.

Medo na sua etimologia significa: O medo é um sentimento que proporciona um estado de alerta demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto fisicamente como psicologicamente.

Amor:  O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação.

Talvez seguindo o significado etimológico das duas palavras consegue-se concluir que ninguém no seu perfeito juízo pretende sentir um estado de alerta e receio, sentindo-se ameaçado, vai querer um vínculo emocional com alguém, que seja capaz de receber um comportamento amoroso e alimentar estimulações sensoriais…

Outra expressão que não se usa em português é: dar o meu coração. Ora, se não se usa, como é obvio ninguém da o coração a ninguém, e embora muitos de nos estejamos em alguma relação a verdade é que como não utilizamos a palavra amor, nem nunca dissemos à nossa metade o que verdadeiramente sentimos, acabamos sempre por pensar que um dia tudo vai acabar, e vai acabar apenas porque ela ou ele, não era a certa para nós. Mas na verdade como será que nós podemos saber? Se nunca lhe dissemos que confíavamos totalmente nela/nele nem nunca lhe mostrámos que o nosso coração estava ali à sua mercê? Provavelmente depois de acontecer algo que nos magoa vamos pensar que já estávamos a espera daquilo, e que de facto aquela pessoa não era a nossa “tal”. e talvez tenhamos chegado a esse ponto precisamente porque não tivemos a coragem de ser fracos, e de mostrar a outra pessoa o quanto precisamos que ela esteja ali para nós, e o quanto precisamos que ela diga, no final do dia, quando parece que nada pode ser bom: “amo-te. Vai tudo correr bem! Vamos dar a volta por cima!”. No limite, o que digo é que por mais vezes que tentemos, por mais vezes que achemos que estamos no caminho certo, algo se vai intrometer, e vai em qualquer circunstancias da vida, a única questão é termos a coragem de dar a importância às coisas que elas merecem, e dizer a quem quer seja: “preciso de ti. Aqui, comigo!” não ter medo de dizer “entre mim e ti há uma coisa que nos separa: o espaço físico a que estamos limitados”… no fundo é termos a coragem de ser felizes! É acordar todos os dias com um sorriso porque a nossa metade falou enquanto dormia, ou saber aquelas coisas que mais ninguém sabe.  É não ter medo de nos dar-mos completamente, sem margem para dúvidas, assim, simplesmente! Porque, simplesmente, somos o que somos.